terça-feira, 17 de novembro de 2009

Capítulo 8

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Ryan sonhou com Marissa. Sonhou que quando acordasse ela estaria deitada ao seu lado. Que eles ficariam juntos.
Mas, quando o sol bateu nas janelas da casa da piscina ela já tinha ido embora. E ele estava sozinho.
Kirsten chegou batendo na porta.
-- Seth? Seth, você está aí?
Seth sentou-se no colchão em que tinha passado a noite. Sua cabeça doía. Ele estava tonto. Deitou-se de novo.
Kirsten entrou feito um furacão.
-- Graças a deus – ela disse quando encontrou o filho. Mas, então, percebeu seu olho roxo. – O que aconteceu com seu rosto?
Seth tocou o rosto e lembrou-se da briga da noite passada. Era bem provável que ele tivesse um olho roxo. “Que legal”, pensou. – Entrei em uma briga. Acontece.
Mas não era isso o que Kirsten queria ouvir. Ryan percebeu que ela estava brava, e que o culpava.
-- O quê? Com quem? Por quê?
-- Não sei direito. Eu estava bêbado. – Seth sentou-se, ainda mais tonto. – Acho que ainda estou.


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Kirsten o pegou pelo braço, sem saber se gritava ou se chorava. Seu bebê estava bêbado e tinha entrado em uma briga.
-- Vamos. Pra casa. Agora – e ela o puxou para fora, dirigindo a Ryan um olhar frio. Ryan sabia que estava lascado. Que esse era o fim de sua estada na casa dos Cohen.
Seth acenou tchau. Ryan forçou um sorriso.

Deitado ali sozinho na casa da piscina, Ryan ficou pensando em sua casa. Ele estava voltando. Sabia disso. Olhou para a cama vazia onde Marissa tinha dormido e pensou em Theresa. Agora ele sabia como ela tinha se sentido quando ele desapareceu. Essa podia ser a parte boa de voltar para casa. Ao menos poderia desculpar-se por abandoná-la no meio da noite.
Ryan juntou suas coisas e entrou na casa. Olhou para a mesa vazia e pensou que poderia ao menos fazer uma coisa legal para retribuir a hospitalidade dos Cohen. Então, começou a preparar o café da manhã para eles. Era a única coisa que ele tinha aprendido a fazer na vida para deixar as pessoas felizes. Era a única coisa que ele tinha aprendido que aliviava a ressaca de sua mãe e a deixava calma, pelo menos por um tempo.
Ele tinha acabado de cozinhar os ovos quando Kirsten entrou. Enfurecida. Pronta para jogar Ryan na rua. Mas quando o viu, e viu o bacon e os ovos... não conseguiu brigar.
-- Olha, Ryan. Não quero bancar a vilã... – Ela olhou para a mesa. – Um café da manhã completo, pronto para ser saboreado. – Ryan viu seu olhar.
-- Eu fiz. Costumava fazer o café da manhã na minha casa. Minha mãe não era exatamente uma boa cozinheira, então...
Agora que ela não conseguia brigar mesmo. – Desculpe. Você parece um bom garoto...
-- Tudo bem. Eu entendo. – Ryan tinha entendido. Ele sabia que isso iria acontecer. Ele pegou a mochila. – Você tem uma...


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...família muito legal – ele disse enquanto saía. E ele realmente achava isso.

No andar de cima, Ryan procurou Seth. Ele precisava se despedir. Bateu na porta do quarto e viu Seth, embriagado, sentado na cama.
-- Ei, cara. Então, estou indo.
-- Você está indo embora? – Seth levantou-se. – Ai, minha cabeça. Minha primeira ressaca... interessante... O que aconteceu?
-- Eu... uh... preciso voltar. Tentar resolver as coisas em casa – Ryan disse em voz baixa. Era mais difícil do que ele tinha imaginado.
-- Legal – Seth entendeu rapidamente. – Legal, não. Mas, tudo bem.
Ryan estendeu a mão, pronto para dizer adeus. Mas Seth foi tomado pela emoção, esticou os braços na direção de Ryan e deu-lhe um grande abraço. Ryan bateu nas costas dele, sem saber o que fazer. Isso era estranho, mas era bom. Ele não tinha recebido muitos abraços na vida.
-- Eu vou até Chino, visitar você. Você pode me mostrar o seu mundo.
Ryan pensou nos problemas que tinham tido na noite anterior e no tipo de vida que ele tinha em Chino. Os dois não se misturariam.
-- Uh, huh... – ele disse, tentando não ofender.
Mas Seth não estava ouvindo. Ele foi rapidamente até a escrivaninha e abriu uma gaveta. Dentro encontrou um mapa e o trouxe para Ryan.
-- Talvez tenha algum lugar para onde você queira ir. É bom pra ter idéias.
Ryan sorriu para Seth. – Obrigado. – E foi embora. Seth era legal.


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Seth ficou sozinho em seu quarto. O Capitão Aveia estava olhando para ele, e...?
Seth pegou o cavalo. – A Operação Amigo Criminoso tinha sido um sucesso.

Do lado de fora, Ryan esperou no carro. Enquanto Sandy se despedia de Kirsten, Ryan pensava se sua família estaria em casa nesse momento. O que ele diria quando chegasse?
Sandy ligou o carro e deu ré para sair da entrada de carro passando pela casa de Marissa, que tinha acabado de sair de casa. Ela estava em pé, sozinha, esperando. Ryan olhou para ela e seus olhares se cruzaram pela última vez. Quem irá salvá-la agora? Ela ficou olhando enquanto eles se afastavam, pensando que nunca mais o veria. Depois da noite anterior, ela não se importava de ele ser uma farsa. Ele era sua válvula de escape. Seu colete salva-vidas nesse mar turbulento. Seu vestido Pucci. Ela não o esqueceria nunca.
Os portões do condomínio fecharam-se atrás deles. Fizeram o percurso em silêncio, enquanto as praias douradas de Newport, lentamente, voltavam a ser o concreto frio de Chino.
À medida que Ryan via o dourado transformando-se em cinza, ele ia pensando sobre sua vida, sobre tudo o que tinha acontecido com ele. Sentia-se sozinho e abandonado. Seu pai estava na prisão, seu irmão também e sua mãe não queria nada com ele. E agora ele tinha estragado a única coisa boa que tinha acontecido em sua vida há um bom tempo. Olhou para Sandy, que tentou forçar um sorriso. “Esse é o fim”, pensou. Para onde ele iria a partir dali? Ele tinha tido sua chance na vida e arruinara tudo.
Sandy saiu da rodovia e entrou em Chino.
Os prédios pichados gritavam de desespero. Essa era sua casa. Uma cidade cheia de abandono, onde as pessoas vagavam sem objetivos pela vida. Ryan pressionou os dedos contra a sola dos sapatos. Sentiu um nó na garganta e ele começou a sentir-se morto para o mundo à medida que sua casa chegava mais perto.


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Sandy parou o carro na frente da casa e descarregou a bicicleta de Ryan, que estava no porta-malas. Eles ficaram ali, o silêncio incômodo aumentando já que nenhum dos dois sabia o que dizer. Então, Ryan tomou a dianteira:
-- Então, obrigado. Por tudo.
-- Vou garantir que tudo fique bem, Ryan. Prometo.
Ryan agradeceu com a cabeça e virou-se para caminhar em direção à porta. Sandy começou a segui-lo. Mas Ryan não queria que ele visse a tristeza que era sua família.
-- Tudo bem. A partir daqui eu me viro. – Então ele se lembrou do que Sandy tinha dito quando chegaram na casa dos Cohen. – Tenho muitas explicações a dar.
Sandy concordou e voltou.
Ryan respirou fundo e começou o que parecia uma grande caminhada até a sua casa. A cada passo que dava, o nó em seu estômago ficava mais apertado. Ele estava com medo e nervoso. Será que as coisas poderiam voltar a ser como eram? Ele poderia ir direto para o quarto sem falar com ninguém?
Chegou na porta e pegou as chaves. Suas mãos tremiam. Colocou a chave na fechadura e virou, preparado para o pior, mas a porta se abriu.
Não estava trancada.
Ryan, cuidadosamente, empurrou a porta até que se abrisse completamente, e entrou. Não estava preparado para o que iria ver.
A casa toda estava vazia. Abandonada. Não havia vestígio algum de sua família.
Ele andou pela casa observando o vazio.
No balcão da cozinha, encontrou um bilhete: “Ryan, desculpe. Não consigo”.
Ele amassou o bilhete e pressionou os dedos contra os sapatos. Sentiu a meia rasgar. O buraco apertou o seu dedão.
Esse era o fim.
Do lado de fora, Sandy viu a porta completamente aberta. Sabia que algo estava errado e entrou na casa.


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Ryan estava em pé, sozinho.
Sandy entrou e viu a casa vazia. Ele não tinha escolha.
-- Venha, vamos embora.
E Ryan virou-se e o seguiu de volta até o carro.
Ele estava completamente sozinho, sem família. Ele não iria se desculpar com Theresa. Não veria mais a cama dele ou o sofá dela. Nem o Sr. Ramirez e suas duas filhas. Os pássaros do gueto. Trey. Sua família. Eles tinham ido embora.
Ele entrou no carro.
Sua mente estava silenciosa.
Fizeram o percurso em silêncio. Ryan com a cabeça apoiada na janela. Olhando.
As pichações gritavam para ele, mas ele não dizia nada. Ele não tinha respostas.
O cinza transformou-se em dourado, o concreto em areia. E eles continuaram dirigindo.
Tudo o que Ryan podia ouvir ou sentir eram algumas lagrimas escorrendo pelo seu rosto. Ele não estava pronto para voltar à casa dos Cohen, mas sabia que não tinha escolha. Não tinha outro lugar para ir. E ninguém a quem recorrer.

domingo, 15 de novembro de 2009

Capítulo 7

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-- Vamos lá, Marissa – disse Luke, enquanto tentava levantar sua blusa. Mas Marissa colocou a mão sobre a dele, mostrando que não queria.
-- Luke, não – ela falou rindo, tentando deixar a situação mais leve.
-- Seis anos. Será que algum dia nós vamos...?
-- Vamos. Mas não aqui. Não agora. – Marissa disse enquanto passava os olhos pela traseira da caminhonete de Luke. Eles tinham parado na praia, no terreno entre as casas da Rua 51, e ido para a parte de trás da caminhonete para dar uns amassos. Como sempre, as coisas foram esquentando e Luke queria ir mais além. Mas Marissa ainda não estava pronta para fazer sexo com ele. Especialmente agora. Ela não queria ter sua primeira vez na traseira de uma caminhonete.
-- Você sempre diz isso. Quando, Marissa? Quando vai ser?
-- Vamos pra casa da Holly. Todo mundo já deve estar lá – disse Marissa, desviando-se da pergunta e saltando para fora da traseira da caminhonete.
Luke ficou sentado por um momento. Ele estava ficando impaciente. “Quando?”, ele pensava, “quando isso vai acontecer?”.


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Ele não tinha muita certeza de quanto mais poderia agüentar sem fazer sexo com ela. Parte dele queria esperar e fazer desse momento algo especial, mas a outra parte era somente um adolescente cheio de desejos.
Marissa sentou-se no banco de passageiro e ficou esperando por Luke. Por que sempre que eles iam dar uns amassos terminava assim, com Luke ficando irritado por ela não querer dormir com ele? Ele não entendia que ela ainda não estava pronta. Por mais que ela quisesse que as coisas fossem diferentes em Newport, ainda não estava pronta para dar esse passo. Além do mais, ela tinha o Ryan para olhar agora, e ele era exatamente a válvula de escape de que ela precisava.
Luke entrou na caminhonete batendo a porta atrás dele. Marissa tentou beija-lo, mas ele se afastou e pisou fundo no acelerador, saindo raivosamente da areia.

-- Bem vindo ao submundo – Ryan disse para Seth, enquanto entravam na casa de praia de Holly.
O lugar estava uma completa bagunça. Jovens enchendo copos plásticos de bebidas. Barris. Carreiras de cocaína em espelhos sobre a mesa. Funis para beber cerveja em um gole só e bongs para fumar. Meninas rebolando no colo dos garotos. Potes cheios de camisinha. Música no máximo volume.
Ryan estava chocado. Era uma festa típica de Chino com alto orçamento. Não encontraria nenhum careca tatuado cobrando um dólar pela cerveja por aqui.
Seth e Ryan continuaram andando pela festa, passando por garotas dançando de biquíni e minissaia enquanto se dirigiam para o quintal, na parte de trás da casa.
-- Aí, barril novinho. Vocês não querem uma bebida? – um cara bêbado com uma camisa colorida, que se intitulava “Cara do Barril”, gritava para a festa toda.
-- É isso aí... – disse Ryan, enquanto pegava um copo.


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-- É isso aí? É isso aí. É sim – Seth ficou valente. Ele nunca tinha bebido nada em toda a sua vida.
Ryan segurou seu copo sob a torneira e inclinou, para não vir muita espuma, enquanto o Cara do Barril abria a torneira. Seth observou e fez igual quando chegou a sua vez. Mas alguma coisa deu errado e ele ficou com mais da metade do copo cheio de espuma e só um pouco de cerveja.
-- Desculpe pela espuma, cara. Olha só. Se você pegar um pouco de óleo do seu nariz e misturar na cerveja, acaba a espuma! – disse o Cara do Barril, enquanto enfiava o dedo oleoso na cerveja de Seth.
-- Por que eu iria beber o óleo do meu nariz? – perguntou Seth meio enjoado pelo cara ter pego óleo do seu próprio nariz e colocado na sua cerveja.
-- Cara, não sei – o Cara do Barril respondeu, meio perdido. Ninguém nunca tinha questionado a teoria antes... para ele era a lei dos bebedores. Imutável.
Seth e Ryan pegaram seus cervejas e voltaram para dentro, ambos sentindo-se deslocados.

Quando Marissa chegou, Summer e Holly vieram correndo encontra-la, cheias de beijos e “Oh, Marissa”, como se não a vissem há anos. Luke ficou atrás dela, mas, rapidamente, aproveitou a deixa e foi encontrar-se com Nordlund e Saunders na praia.
As garotas se reuniram na cozinha e começaram a se servir de bebidas.
-- Essa bolsa é nova? – Summer perguntou enquanto Marissa colocava vodka em seu copo.
-- Uma graça – Holly respondeu segurando-a.
-- Seu pai nunca diz não?
Marissa estava quase respondendo “sim”. Mas então se lembrou do vestido Pucci e de que ele tinha lhe dado o dinheiro para compra-lo. “Acho que ele nunca diz não.” Então ela pensou em...


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...seu pai encolhido na cadeira durante o desfile e em como tinha certeza de que tinha feito algo de errado. Tomou um gole de seu drinque e mostrou um sorriso meio amarelo para as meninas. Mas elas estavam muito ocupadas vendo os garotos que estavam na festa. Ela colocou mais vodka em seu copo, deu um gole e colocou mais um pouco.
-- Olha só quem eu trouxe – Summer começou enquanto passava os olhos pela festa.
-- Ele é uma graça – Holly sorriu.
Marissa levou o copo até a boca e deu um gole enquanto virava a cabeça para ver de quem as meninas estavam falando. Era Ryan, com Seth a reboque. Estranhamente navegando nessas novas águas sociais. Marissa observou-o cuidadosamente. Ele era atraente. E misterioso. Ela o fitou, mas virou a cabeça quando seus olhares iam se encontrar. Ela não queria que ele a visse. Queria ser misteriosa também. Deu mais um gole em sua bebida. Estava forte, mas era assim que precisava ser.
-- Vou fazer gato e sapato dele – Summer começou enquanto media Ryan de alto a baixo. Então, virou-se para as meninas: – Alguém quer fazer xixi? Eu preciso fazer xixi.
As garotas se viraram e foram juntas ao banheiro. Assim era Newport, e nenhuma garota ia ao banheiro sozinha. Era a tradição, e nada fugia a tradição nessa cidade. Então, Marissa pegou seu copo e, mesmo odiando as tradições, seguiu as meninas rumo ao banheiro.
Ryan viu-as desaparecerem. Ele não conseguia tirar os olhos de Marissa. Estava preso a ela. Tomou um gole de sua cerveja e sorriu.
Luke entrou de novo e ficou a poucos metros de Ryan. Viu Marissa fechar a porta do banheiro. Quando teve certeza de que ela não estava mais na área, virou-se para Nikki, uma caloura bonitinha que estava ao seu lado.
Ela sentiu os olhos dele sobre ela e disse:
-- Você não acha que a areia deve estar... bonita? E a água?


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Luke olhou para a covinha dela, tão bonitinha, e pensou, “talvez não tenha problema”. Voltou-se ara o banheiro. A porta continuava fechada. Então, respondeu para Nikki:
-- Com certeza. Quer ir até lá?
Nikki virou-se para o lugar onde tinha visto Marissa conversando com Summer e Holly. – Mas, e se...
Ele olhou de novo e vi que Ryan o observava. A porta do banheiro continuava fechada. – Não se preocupe...
Nikki pegou no braço de Luke e seguiu-o até a praia. Não havia chance de ela dizer não para ele. Ryan os viu caminhando juntos. Vendo-os, ele pensou: “Por que Luke deixaria Marissa?”.

Dentro do banheiro, as meninas riam enquanto viravam seus drinques. Estavam falando de Ryan e dos outros caras gostosos da festa.
-- Ele é gostoso, você não acha Coop? – perguntou Summer. Marissa sorriu, “claro”, mas Holly percebeu sua resposta pouco animada.

-- Ele não é o Luke, claro. A gente sabe. Ninguém se compara a ele. Mesmo assim é um gato.
Marissa riu com o comentário de Holly. “Engraçado.”
-- Falando no Luke, vocês demoraram bastante pra chegar aqui esta noite. Vocês...?
-- Summer! Não – Marissa respondeu rapidamente, enquanto abria a porta do banheiro. Ela sabia o que Summer estava perguntando e não estava afim de contar todos os detalhes para as meninas. Que Luke queria transar com ela na carroceria de sua caminhonete na praia, na Rua 51. – Vamos, eu preciso de outra bebida.
As duas seguiram Marissa até a cozinha.
Do lado de fora, Seth estava indo buscar mais cerveja. Ele estava começando a ficar tonto. “Então é isso que é ficar...


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...bêbado”, pensou, enquanto abria a torneira. O Cara do Barril veio ajuda-lo a servir-se. Pegou uma para o Ryan e foi encontra-lo do lado de dentro.
-- Aqui está, camarada – Seth disse, entregando outro copo para Ryan. – Peguei mais cerveja para você. – Valeu – disse Ryan ao pegar o copo das mãos tremulas de Seth.
Seth estava nervoso. Ele tinha acabado de chamar Ryan de “camarada”. E eles ainda nem tinham ultrapassado a linha da amizade. E ele o estava chamando de “camarada”. “Isso foi péssimo”, pensou. Era como chamar uma garota de “amor” depois do segundo encontro. Ele tinha destruído tudo. A Operação Amigo Criminoso estava acabada. Seth virou-se imediatamente e voltou a sair da casa.
Ryan ficou sozinho bebendo sua cerveja. Vendo a bagunça que era essa festa em Newport. Casais se pegando pra todo mundo ver. Os surfistas dando uns pegas no bong. Alguns caras cheirando cocaína na mesa. Não era uma festa típica de adolescentes, mas era bastante interessante. Ryan foi até o bar, numa tentativa de misturar-se. Ele tinha terminado sua cerveja e acabara de encher outro copo quando Marissa se aproximou.
-- Então, você ainda não me disse. O que está achando de Newport? – ela perguntou, sorrindo.
Ryan observou a festa a sua volta. Depois os olhos fascinantes de Marissa.
-- Acho que posso me meter em menos encrencas no lugar de onde eu venho.
-- Você não tem idéia... – ela respondeu, pegando o copo dele e dando um gole. Ela preparou um outro drinque mais forte para ela e mexeu, enquanto lambia uma gota de seus lábios. Os dois ficaram se olhando por alguns segundos, ambos encantados um com o outro.
-- Coop, é a sua vez de dar as cartas – Holly gritou da cozinha, interrompendo a conexão entre os dois. Marissa sorriu para Ryan. – Preciso ir. E foi andando, flutuante.


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Ryan ficou ali sozinho. Pensando se Marissa sabia que Luke estava do outro lado de fora com Nikki, enquanto a observava jogando cartas com as amigas. Sentiu-se mal por ela, mas, mais do que isso, estava louco com Luke por colocar em risco sua relação com uma garota tão linda. Ela merecia algo melhor.

No quintal, atrás da casa, Seth tinha descoberto o barril. Estava já bem alterado. Sentia-se solto e quase descolado. Serviu-se de mais cerveja. O copo ficou cheio de espuma. “Ótimo”, ele pensou. Mas não existia a menor possibilidade de ele pegar óleo do nariz e colocar na bebida.
-- Você se importa? – Seth perguntou para o Cara do Barril apontando para o barril com a cabeça. O Cara do Barril esvaziou seu copo, serviu-lhe outro e afastou-se um pouco, dando espaço para Seth.
Seth bebeu sua cerveja e, então, sentou-se junto ao barril, virando-o para o seu lado. Ele puxou a mangueira e abriu a torneira, inspecionando.
-- Entendi como funciona – Seth começou a dizer para si mesmo. – O dióxido de carbono do tanque é usado para pressurizar o barril. “Interessante”, ele pensou. – Interessante. Então, você usa o regulador para baixar a pressão e... voilà.
Alguns jovens tinham se reunido em volta para ver o que ele estava fazendo.
Seth colocou o barril de volta na posição e serviu-se de mais um copo cheio. Sem espuma. Ele virou a cerveja e encheu o copo outra vez.
Os jovens aplaudiram.
-- Viram? Não precisa de óleo de nariz – disse, virando-se para o Cara do Barril. Mas o Cara do Barril tinha desmaiado e alguns adolescentes estavam desenhando baixarias em seu rosto...


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...com caneta retroprojetora. “Mais pra mim”, Seth pensou enquanto terminava sua cerveja e enchia o copo novamente... e saiu tropeçando para ver como estava a festa.

Ryan serviu-se de mais um drinque no bar da cozinha e foi caminhando para onde estava mais cheio de gente. Ele não conseguia acreditar que os pais desses adolescentes tivessem dado permissão para eles fazerem uma festa tão exorbitante. Tinha bebida derramada por todo o chão e, a cada quinze minutos, mais ou menos, ele ouvia um barulhão e um forte “uh-oh”. Era uma garota de biquíni escorregando. “Newport não é tão ruim assim”, pensou. Mas, ainda assim, ele se sentia completamente deslocado. Ele já tinha visto muita droga, álcool e sexo, mas não tão abertamente. Ele sempre tinha achado que os ricos tinham tudo... e não precisavam de drogas ou álcool. De onde vinha, os jovens usavam drogas e bebiam porque não tinham nenhuma outra coisa para fazer. Porque não tinham futuro. Ninguém lá tinha o sonho de se tornar médico ou advogado, ou tinha pais com carreiras brilhantes. De onde ele vinha, o cara tinha sorte se fosse promovido a chefe ou gerente de uma fábrica local. Mas, agora, Ryan estava em meio a um mar de riquezas e se perguntava – seria esse o futuro? Os ricos – médicos, advogados e magnatas do ramo imobiliário? Se sim, onde ele se encaixaria?
Ryan foi andando até o quintal para respirar um pouco de ar fresco.
Dentro da casa, Marissa se serviu de outro drinque. Summer, que já estava um pouco mais do que tonta, reparou que Ryan estava sozinho do lado de fora.
Ela foi cambaleando até ele, enquanto Marissa ficou olhando de longe, colocando mais vodka em sua bebida.
-- Olha quem eu encontrei! – Summer falou com a voz enrolada e um pouco de sua bebida espirrou em Ryan. – Oops... Oi – ela terminou, tentando seca-lo desajeitadamente.


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-- Oi.
-- Oi – ela disse, aproximando-se. – Estou bêbada.
Ryan concordou com a cabeça, um pouco desconfortável, enquanto ela dava em cima dele.
-- Então, como é mesmo seu nome? – Ela falou, colocando o braço em volta do pescoço de Ryan, flertando.
-- Ryan – ele respondeu ainda mais desconfortável, pensando em Seth.
-- Eu estou tão bêbada, Ryan. Preciso de alguém para cuidar de mim. O.K.? – Ela o encostou contra a grade.
Ryan tropeçou. Não sabia o que fazer. Rir? Aproveitar? Mas lembrou-se de Seth e tentou sair. Summer o tinha encurralado. Ele não iria a lugar algum.
Do lado de dentro, Seth tinha dado uma volta pela festa e estava voltando para o quintal para pegar mais cerveja.
Summer jogou-se para cima de Ryan, tentando beijá-lo. Seth abriu a cortina. Tinha ouvido a voz de Ryan.
-- Você precisa ver o barril. Eu consertei e... – Seth parou, atônito, vendo Summer em cima de Ryan.
-- O que... o que é que vocês...
-- Seth. Oi. – Ryan falou, conseguindo finalmente desvencilhar-se de Summer.
Mas Summer foi atrás dele. – Com licença.
-- O que você está fazendo? Quero dizer, eu dei o nome dela pro meu barco – Seth disse, arrasado e bêbado.
-- O que? Eca. Quem é você? – balbuciou Summer, enquanto se aproximava de Ryan.
Ryan virou-se para Seth, tentando consertar a situação. – Não é o que você está pensando. Ela só está bêbada.
-- Para com isso Ry-Ry – Summer falou, jogando-se para cima de Ryan.
-- Não acredito em você! – Seth falou, empurrando Ryan contra a porta de vidro. A festa estava se acalmando. Curiosa, Marissa levantou-se da cozinha e foi ver o que estava acontecendo.


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Seth não ia deixar barato. – Por que você não volta para Chino? – Seth falou para Ryan. – Tenho certeza de que vai encontrar um bom carro estacionado por lá para roubar. Todos ficaram imóveis e em silêncio. Seth foi tropeçando para a praia.
-- Chino? Eca... – sussurrou Summer.
Ryan ficou sozinho. Marissa cruzou seus olhos com os dele. Mesmo estando bêbada, percebeu que tudo o que ele tinha contado a ela na noite anterior era verdade. Ele era um ladrão e não primo dos Cohen. Talvez ele não fosse tão bom quanto ela tinha achado. Ele era uma enganação, um Pucci falsificado. Cambaleante, voltou para perto de suas amigas e pegou sua bebida, enquanto Ryan passou correndo por ela. Ele estava constrangido e envergonhado. Não queria que a noite tivesse terminado assim.
Precisava ir embora. Voltar para Chino. Ir para qualquer lugar, só não podia ficar ali.

Na praia, Seth tentava seguir seu caminho passando pela fogueira, mas foi parado por Nordlund e Saunders com mais alguns amigos.
-- Vai pra casa, seu bicha. – Nordlund gritou.
-- Quem te convidou, seu bundão? – Saunders rebateu.
A verdade é que tudo o que Seth queria fazer era ir para casa. Ele não queria problemas. Só precisava de uma carona ou de orientação. A cerveja estava começando a baqueá-lo e a Operação Amigo Criminoso tinha terminado.
Mas Nordlund e Saunders ainda não tinham encerrado seu assunto com ele.

Quando Ryan se aproximou da porta da frente, ouviu gritos vindos da praia. “Seth”, ele pensou. E voltou para dentro da casa.
-- Você não é daqui, Cohen – Nordlund grunhiu, enquanto pegava a perna de Seth.


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-- Eu sei... – Os garotos pegaram a outra perna e os braços de Seth, levantando-o da areia. – E se me deixar ir, prometo não voltar nunca mais.
-- Tarde demais. – disse Saunders, enquanto arrastavam Seth em direção ao mar. Seth tentou libertar-se, mas foi inútil.
Ryan estava no quintal e viu Seth suspenso no ar. – Ei, ei! – ele gritou enquanto corria para a praia.
Luke também tinha ouvido toda a barulheira e veio correndo, logo atrás com Nikki toda desarrumada.
-- Coloquem ele no chão – gritou Ryan, olhando para Luke e Nikki.
-- O que foi cara? Algum problema?
-- Depende de você – Ryan respondeu, enquanto cerrava o punho e dava um soco no rosto de Luke. “Isso é pela Marissa, e pelo Seth.”
Os outros, repensando suas prioridades, largaram Seth e foram para cima de Ryan. Ryan desviou-se, mas foi acertado por outro cara. Então, Luke entrou na briga e jogou Ryan na areia. Todos pularam em cima dele. Seth estava mais para trás, mas sabia que não podia esperar por muito tempo. Tirou um dos caras de cima do Ryan, e ficou chocado com sua força.
Ele continuou atônito, mas, rapidamente, também tombou na areia. Luke e sua turma continuavam a socar e a chutar Ryan. Seth estava caído, imóvel. Os dois estavam rendidos, só esperando a briga terminar.
Luke deu um último soco em Ryan e chutou areia em seu rosto. – Bem vindo a O.C., desgraçado. É assim que se resolvem as coisas em Orange County. Se eu o vir de novo por aqui você está morto. Ouviu? Morto!
Luke e seus amigos foram embora, deixando Ryan e Seth na areia.
Marissa, Summer e Holly estavam no quintal com o resto do pessoal, assistindo a briga terminar. Marissa e Summer voltaram a beber. Ryan não era quem elas achavam que era. Mas Holly...


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...demorou a segui-las. Ela ficou lá um pouco e viu Luke indo para a caminhonete com Nikki. Balançou a cabeça, espantada, não poderia contar isso nunca para Marissa.

Ryan e Seth levantaram-se lentamente da areia. A dor espalhava-se pelo corpo todo. Foram tropeçando silenciosamente pela praia e começaram a longa caminhada para casa.

Na praia, Luke e Nikki estavam deitados na carroceria da caminhonete dele.
-- Onde foi que nós paramos? – ele perguntou enquanto a beijava.

Dentro da casa, Marissa terminava a bebida que tinha deixado sobre a mesa.

Ryan e Seth caminhavam. Em silêncio.

Nikki inclinou-se sobre Luke, rindo. Ele desabotoou sua blusa. Ela sorriu e o incentivou. Ele sorriu de volta, beijou sua pele suave enquanto ela passava as mãos pelos cabelos dele. Ele tirou a camisa, deixando-a passar as mãos em seu peito.

Marissa tomou outra dose. Essa noite tinha sido um desastre. Ryan era uma farsa.

Ryan limpou a areia do rosto. Seth tropeçou.

Luke disse algo baixinho no ouvido de Nikki. Ela fez que sim com a cabeça.

Marissa serviu-se de outra dose. Com vodka extra. Ela precisava fugir. Onde estava Luke?


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Seth ia na frente enquanto caminhavam pela cidade. Ambos com dores.

Nikki beijava Luke.

Marissa engoliu metade do copo de uma vez, sentindo a bebida entrar em sua corrente sanguínea. Ela tropeçou. Caiu na cadeira. O que é que ela tinha feito para o seu pai?

Ryan sentiu-se culpado e egoísta. Será que Seth o odiava?

Luke estava quase se sentindo culpado. Então, Nikki o beijou de novo.

Marissa não estava conseguindo manter os olhos abertos. Summer e Holly viram a amiga cambaleando.

Seth não conseguia falar. Ele tinha estragado o plano. Um amigo negativo.

Luke não conseguia esperar.

Summer saiu a procura de Luke. Holly deu um pouco de água para Marissa. Ela sabia que Summer não voltaria com ele.

Ryan olhou para Seth. Sua imagem de uma família estava se desfazendo.

Luke e Nikki estavam deitados, imóveis, mal se tocando.

Summer e Holly levaram Marissa para o carro, fecharam a porta e aceleraram.

Seth apontou para a colina. Eles estavam chegando.


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Ryan pensou que a caminhada não acabaria nunca. Não tinha percebido como Newport era grande. Eles tinham andado em silêncio. Ambos sem saber o que o outro estava pensando.
Entraram na casa da piscina e caíram no chão. Tontos, machucados e com hematomas. Ficaram em silêncio durante um bom tempo, e então Seth não conseguiu mais agüentar.
-- Não sei o que dizer. Exceto que essa noite foi inacreditável. Você me salvou, foi como se tivesse... saído diretamente do Clube da Luta – Seth sentou no chão e chutou o ar, fingindo que estava brigando. – Se você me ensinar alguns golpes, acho que podemos pega-los da próxima vez.
Pela primeira vez desde que tinha chegado em Newport, Ryan sorriu sinceramente. Seth era um cara legal. Talvez não o odiasse.
-- Não, não era bem assim que eu tinha planejado falar com a Summer pela primeira vez. Mas, agora estou no seu radar. Acha que eu deveria ter contado a ela sobre o Taiti? – Seth perguntou. Talvez a noite não tivesse sido tão ruim assim. Ele estava se sentindo à vontade ao lado de Ryan. Talvez fosse isso que acontecia com os amigos. Talvez a Operação Amigo Criminoso tivesse dado certo.
-- Ainda não – Ryan disse, rindo outra vez.
-- Foi o que pensei. Que noite! Não vou esquecer nunca. Foi tão... tão...
Ryan virou-se para olhar para Seth, mas ele já estava longe. Inconsciente e roncando. Ryan sorriu de novo. Essa noite tinha sido inesquecível. Ele estava agitado. Não conseguia dormir. Tudo o que tinha acontecido esse fim de semana ficava passando pela sua cabeça. Trey. Theresa. A.J. Sua mãe. Sandy. Marissa. Ele precisava sair, dar uma volta.
Quando saiu no gramado, Ryan descobriu uma varanda na lateral do quintal que dava para a entrada de carro da casa dos...


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...Cooper. Ele ficou lá, olhando para o oceano, vendo como brilhava sob a luz do luar. Era tranqüilo e sereno. Ouviu um carro aproximando-se. Olhou para baixo e viu uma Mercedes entrar na casa dos Cooper.
Summer e Holly desceram e deram a volta para tirar Marissa do carro. As garotas ainda estavam bêbadas enquanto tentavam carregar Marissa gentilmente até sua casa.
-- Como é que ela pôde fazer isso... – Summer resmungou quando tropeçou.
-- Juro por deus. Às vezes ela é tão retardada.
As meninas carregaram Marissa até a porta da frente e soltaram no chão.
Coop, cadê suas chaves? Como a gente vai achar as chaves dela? – Summer perguntou, enquanto revirava a bolsa de Marissa.
-- Se os pais dela nos virem aqui, matam a gente.
-- O namorado dela não deveria estar fazendo isso? – disse Holly. – Ele é tão desprezível. – Summer deu um passo para trás.
Holly queria dizer algo sobre Luke e sobre ele ter ido embora com Nikki, mas não disse. Não consigo achar as chaves.
-- Não podemos acordar os pais dela. O pai dela ficaria louco.
As duas ficaram em silêncio por um momento, pensando na decisão a tomar. Não podiam tocar a campainha. E não podiam levá-la com elas. Então, decidiram. Um conselho silencioso. Precisavam ir embora.
-- Tchau, Coop – despediu-se Summer.
-- Liga pra gente! – acrescentou Holly, enquanto corriam de volta para o carro e iam embora.
Lá de cima, Ryan viu Marissa caída no chão sozinha. Ele tinha visto a mãe assim inúmeras vezes. Não podia abandoná-la naquela noite fresca de verão.
Ele deu a volta na casa e foi até lá. Sacudiu-a, disse seu nome, mas não conseguiu acordá-la. Não podia deixá-la ali.


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Ele a pegou nos braços e a carregou até a casa da piscina. Ryan colocou Marissa em sua cama. Sua pele macia em contato com seu rosto. “Isso é sorte?”, ele pensou enquanto a cobria com o lençol e deitava em um colchão no chão, ao lado de Seth.
Ele a observou respirando suavemente – seu peito movendo-se para cima e para baixo, seus olhos trêmulos. E ele queria salvá-la do que quer que a tivesse deixado tão entorpecida, tão morta para o mundo. Da forma como sua mãe ficava. Seria o Luke?
Ele pensou em sua família. Imaginou o que eles pensariam se o vissem ali, com aquelas roupas, com aquela linda garota na cama. Será que aprovariam?

Capítulo 6

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Marissa estava na frente do espelho, de calcinha e sutiã, inspecionando seus quadris. Será que Ryan iria reparar como eram grandes? Ela não queria ir ao desfile. Ouvia sua mãe ajudando Kaitlin a se arrumar no quarto ao lado. Criticando. Incentivando a perfeição. Ela seria a próxima.
Julie bateu na porta.
-- Marissa, querida, você ainda não está vestida. Venha cá. Esse aqui. Julie estendeu para a filha o Donna Karan preto que ela tinha experimentado no dia anterior. Comum e perfeito. Marissa enfiou o vestido pela cabeça. – E seu cabelo? Você não vai fazer o alisamento?
-- Claro – ela respondeu, mas gostava do cabelo como estava, solto e ondulado. Marissa ligou a prancha de alisamento.
-- Pronto. Agora vou terminar de me arrumar. Te encontro lá embaixo em 15 minutos.
Marissa concordou. Mas não estava dando a mínima. Ela não ficava assim tão desanimada cm um evento da Liga Nacional Beneficente desde que seu peixinho Ziggy tinha morrido na manhã da regata anual de iates. Então, ela deu a ele um funeral apropriado com a descarga, mas a idéia de ir para o oceano, onde...


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...milhares de peixes nadavam livres e vivos, deixou-a indisposta. Seu pai permitiu que ficasse em casa e ela ficou assistindo desenhos com ele. Quando Marissa começou a alisar o cabelo, pensou em como era fácil a vida quando ela tinha 10 anos. Sem pressões. Sem garotos. Sem vaidade. E sem a monotonia de Newport. Seu cabelo já estava quase completamente liso quando seu celular tocou.
Marissa atendeu. Era Summer. Em pânico. Quase chorando.
-- Ai, meu Deus, está horrível. Coop, preciso de ajuda.
-- O.K. Calma. O que foi?
-- Meu vestido. Simplesmente não dava pra me mexer e agora o zíper arrebentou. Por que eu não comprei outro vestido na Neiman? Marissa, me ajuda.
-- Dá pra consertar?
-- Não. Meu costureiro foi para o Havaí hoje de manha e a madrastra-monstro é uma inútil. Coop, o que eu faço?
Mas Marissa não sabia o que fazer. Ela não sabia costurar.
-- Não se preocupe, vamos dar um jeito. – Marissa falou enquanto passava a prancha no cabelo mais uma vez. Estava perfeito. Perfeito demais. E ela odiava isso. A imagem no espelho era imaculada. Comum. Perfeita. E horrível. Ela puxou o cabelo e prendeu. Não conseguia parar de pensar no primo misterioso dos Cohen. Havia algo nele que a intrigava e a fazia acreditar que poderia fugir de Newport só de olhar para ele. Com ele, ela não precisava ir até a Neiman ou comprar um vestido Pucci.
-- Coop...? – Summer gritou de novo.
-- Não se preocupe. Eu tenho um vestido para você – Marissa disse ao puxar o Pucci do closet. – Comprei aquele vestido ontem. Não é mesmo meu estilo. Vai ficar lindo em você. Vou levar.
-- Coop, eu te amo. Você acaba de me salvar. – Summer disse enquanto abraçava o telefone.
Marissa deu uma última olhada para o vestido. Realmente, não era o estilo dela. Ela não precisava dele. Tinha Ryan. E ele...


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...seria sua válvula de escape, mesmo que ela no fizesse outra coisa alem de olhar para ele.
Na casa vizinha, Ryan estava na frente do espelho da casa da piscina tentando imaginar como dar um nó na gravata. Estava completamente perdido. Agora ele sabia porque Seth não queria ir a esse desfile. Ele estava meio desesperado por estar em um terno que provavelmente tinha custado mais do que todo o seu guarda-roupa. O único brilho de esperança que ele via era a imagem do sorriso de Marissa. Tinha algo no sorrido dela que fazia o coração dele disparar. Qualquer que fosse a sorte que aquele cigarro tivesse trazido, estava pronto para ela. Esse lugar estranho o deixava com o estômago embrulhado, mas o sorriso dela o acalmava. Agora, se pudesse simplesmente dar o nó na gravata, talvez conseguisse enfrentar a noite.
Ele estava tentando de novo quando Sandy entrou. Ryan tentou disfarçar sua inabilidade, mas Sandy percebeu.
-- Eu não soube dar nó em gravata até os 25 anos.
Ryan ficou envergonhado. Ele tinha sido pego. Largou a gravata. Sandy ficou atrás dele.
-- Bem, o importante é que o lado mais fico fique mais curto do que o lado mais largo – disse Sandy, enquanto arrumava a gravata em Ryan. – Então, damos uma volta por cima, veja...
Ryan observava enquanto Sandy dava o nó em sua gravata. Sentia-se desconfortável, mas de um jeito bom. Jamais um adulto se interessara tanto por ele. era uma sensação estranhamente agradável.
-- E voilà – Sandy continuou atrás de Ryan, observando sua obra no espelho. Ryan sorriu. Talvez fosse essa a sensação de ter um pai por perto.
-- Então, você passou um tempo com o Seth. Ele... como... foi... – Sandy começou e parou.
Ryan esperou, sem saber o que responder a Sandy. Ele gostava de Seth. Um pouco estranho, mas tinha gostado dele.


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-- Ele é um garoto interessante quando você o conhece. – Sandy completou.
-- Ele é legal. – Ryan falou com desdém, sem ter certeza do que Sandy estava esperando.
Sandy concordou com a cabeça, “Sério?”, mas Ryan apenas sorriu de volta. Sua imagem no espelho era impressionante. Talvez ele pudesse adequar-se a esse mundo. Se ao menos Theresa pudesse vê-lo agora... ou Marissa.

No andar de cima, Seth ainda não tinha nem tomado banho. Seu desempenho mediano na Operação Amigo Criminoso tinha-o deixado meio apavorado. Ele não queria nunca mais enfrentar situação alguma sem um bom plano.
Na frente dele estavam todas as tabelas e mapas para sua viagem ao Taiti. Agora ele percebia que iria precisar de muito mais do que uma boa rota. Precisaria de coisas para conversar, para se divertir, provisões... tudo o que havia faltado em seu passeio de barco de uma hora com Ryan. Mas, pelo menos agora, ele tinha tempo. Pelo menos um ano inteiro. Mas precisaria trabalhar duro. Sem distrações.
Sandy parou do lado de fora do quarto, bateu na porta. Uma distração. Seth rapidamente escondeu seus mapas na gaveta.
-- Oi, o que está fazendo?
-- Me arrumando. Trabalhando meu vocabulário – Seth falou depressa, para disfarçar.
-- Uh-huh. Bem, vamos logo. Você precisa tomar banho, se vestir...
Seth concordou e voltou-se para os papéis à sua frente. Sandy esperou por alguma resposta engraçadinha, e foi embora. “Sim, pai, mal posso esperar. Ficarei pronto em um piscar de olhos”, Seth murmurou para si mesmo. Por mais que ele quisesse ver Summer, não estava a fim de ir a um desfile de moda.


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Vinte minutos depois todos estavam prontos para sair. Seth e Ryan seguiram Kirsten até o carro. O ar estava mais frio com o pôr-do-sol. Ryan ficou arrepiado.
Marissa olhou pela janela e viu a família Cohen entrar no carro. Afinal, ela encontraria Ryan. Um sorriso enfeitou seu rosto enquanto ela colocava seu vestido Pucci em uma sacola para levar para Summer e descia as escadas.
-- Oh, Marissa. Você está tão... – Julie mediu Marissa. – Achei que você fosse usar o cabelo solto. Preso assim, fica um pouco duro. Nos ângulos do seu rosto.
Marissa forçou um sorriso.

-- Bem-vindo ao submundo – Seth disse a Ryan enquanto se dirigiam à recepção.
Duas portas gigantescas de vidro se abriram, revelando o pátio do Hotel St. Régis. Era mais requintado do que tudo o que Ryan já havia visto em sua vida. Tinha uma piscina com uma ponte. Vista para o mar. Centenas de moradores de Newport cobertos de prata e ouro. Garçons com canapés. Bebida à vontade. Um mostruário de riqueza saída diretamente das páginas de O Grande Gatsby.
Ryan observou tudo isso. Completamente admirado. Sentiu-se perdido e deslocado. Um garçom aproximou-se dele.
-- Meia-lua de cogumelos com alho poró? Canapé de siri com brie?
Esse poderia ser realmente o submundo, pensou enquanto observava aquela comida estranha na bandeja. Virou-se para procurar Seth em busca de consolo, mas viu-se sozinho.
Seth tinha ido atrás de alguma comida de verdade.
Ryan pegou uma daquelas coisas da bandeja do garçom e andou até a ponte de mármore. Enquanto observava a luz do sol se pondo sobre o oceano, tinha dado apenas alguns passos quando uma bela mulher mais velha se aproximou dele.


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-- Então você é o primo de Boston, hum? Eu não conseguiria morar lá, detesto frio... – Ryan concordou, sem muita certeza do que dizer. Mas ela não estava muito preocupada. Deu um beijo em seu rosto e seguiu seu caminho, deixando-o sozinho novamente, naquele mundo estranho.
Ryan continuou caminhando, mas parecia que as noticias corriam rápido em Newport. Enquanto tentava mover-se pela recepção, era parado o tempo todo e bombardeado por perguntas diversas. Parecia que cada um tinha ouvido uma história diferente. Ryan era lançado de uma pessoa para outra, sem que nenhuma realmente soubesse quem ele era. Todos curiosos. Seria do Canadá? De Seattle? De Boston?
Durante seu percurso, Marissa viu Ryan tentando escapar das pessoas. Ela sorriu, mas virou-se para o outro lado quando ele olhou na direção dela.
“Eu preciso de você”, ele pensou, “preciso da sua sorte para me salvar”.
Mas Marissa continuava de costas. Ele foi até o bar e pediu uma bebida, mas assim que pegou o copo, Kirsten apareceu. Seu olhar era de reprovação. Ela tirou a bebida das mãos dele e disse em voz baixa: – Eu quero que meu marido esteja certo a seu respeito. Ryan ficou um pouco surpreso com o comentário, mas entendeu. E ele queria provar para ela que Sandy estava certo. Que ele era um bom garoto, um garoto inteligente e com futuro. Agora, tudo o que ele precisava fazer era acreditar nisso também. Ryan estava prestes a responder educadamente a Kirsten quando a Sra. Milano se aproximou.
-- Olá, Kirsten. Gostaria de saber se posso roubar seu sobrinho por um momento. Tem alguém que eu gostaria que ele conhecesse.
A Sra. Milano pegou Ryan pelo braço e levou-o diretamente para Marissa. A beleza dela deixou-o atordoado, pela segunda vez. Ele apertou os dedos dentro do sapato, lutando com a emoção.


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-- Marissa, querida. Quero que conheça alguém. Este é Ryan.
Marissa virou e deu uma olhada em Ryan de cima a baixo. “ Ele está melhor hoje do que ontem. Ainda mais intrigante”, ela pensou.
-- Oi, Ryan. Muito bom encontrar você. – Ela não queria que ele percebesse seu interesse.
Mas Ryan percebeu. Ela queria jogar. – Bom encontrar você, também...
Fez-se silencio entre eles. Um silencio constrangedor.
Ryan olhou ao redor, para o absurdo que era a sociedade de Newport. Mulheres com rostos cobertos por maquilagem, tão esticados e duros. Homens de pele bronzeada e Rolex. Garotas fingindo ser as melhores amigas umas das outras.
-- Então, o que está achando de Newport? – Marissa perguntou, enquanto um grupo de mulheres da sociedade de Newport passava por eles.
Ryan queria responder. Dizer-lhe que se sentia perdido, deslocado. Que quando ela estava por perto sentia-se com sorte. Como se as coisas fossem dar certo. Mas o pai de Marissa os interrompeu e ela foi levada antes de ele ter a chance de responder.
Ryan a observou enquanto se afastava. Tão graciosa e elegante, perfeita e à vontade. Tudo isso parecia simples para ela e ele admirava isso. Se tivesse crescido ali, não tinha certeza de como agiria naquele tipo de situação. O dinheiro. A presença de adultos. Os adolescentes agindo como adultos. Era tudo muito novo para ele.
Seth apareceu atrás de Ryan e entregou-lhe um copo de água. Enquanto observavam, Luke chegou ao lado deles e pegou uma bebida no bar. “Esta é minha chance”, Seth pensou, decidindo tentar conversar com Luke. Um novo ano escolar estava começando, eles estavam mais velhos, mais maduros... talvez as coisas tivessem mudado.
-- E aí, Luke. – ele disse, timidamente.
Luke deu um gole em sua bebida e passou por Seth. – Vai se danar, seu bichinha.


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“Acho que algumas coisas não mudam nunca.” Seth encolhe-se constrangido. Mas Ryan deu um passo a frente. Olhou nos olhos de Luke e o encarou. Entendendo perfeitamente situação de Seth nesse momento. E não gostou.
-- Minhas férias foram ótimas também, Luke. Obrigado por perguntar. – Seth disse, tentando fingir que não se incomodava. Ryan apenas acenou com a cabeça, procurando evitar que Seth se sentisse ainda mais desconfortável do que já estava.
Quando Ryan se virou para Seth, seus olhos estavam arregalados. “O que foi agora?”, Ryan pensou.
Summer. Ali. Olha. Não, não olha. Quer dizer, olha. Mas não olha como se estivesse olhando.
Ryan olhou para o outro lado da piscina e viu Summer ao lado de Marissa. Ela era não deslumbrante quanto Marissa, mas não tão sofisticada.
Do outro lado, Summer estava olhando para Ryan.
-- Quem é aquele? – ela perguntou.
-- O primo. O limpador de piscina. Não sei. – Marissa respondeu, tentando entender quem ele realmente era. Ela gostava desse mistério, “mas por que tinha de estar encoberto pelo Cohen?”, ela pensou quando viu Seth encolhido ao lado dele.
-- Bom, eu vou descobrir... – Summer sussurrou, com a voz sexy.
Do lado de cá da piscina, Sandy chegou perto dos meninos e percebeu que estavam olhando fixamente para o outro lado.
-- Aquela é a Summer? – Sandy perguntou, apontando diretamente para ela. Summer virou-se.
Seth ficou apavorado e foi para dentro procurar um lugar para se sentar.
-- Estragou o lance dele, Sr. Cohen – disse Ryan, antes de ir atrás de Seth.
Dentro do hotel, o salão estava lotado. Jovens e seus pais em todos os lugares. Um zoológico de alta costura e champanhe.


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Ryan foi seguindo no meio daquele monte de gente até alcançar Seth.
-- Ei – disse Ryan. – Onde nos sentamos?
Seth não respondeu.
Não havia mais lugares vagos. Luke e sua turma estavam com sua própria mesa e a mesa de Sandy e Kirsten também estava cheia. Todos pareciam estar guardando lugares para seus amigos. Ryan sentia-se deslocado e Seth constrangido por não ter planejado melhor como resolver isso. Então, ele viu dois lugares vagos ao lado de Chester, seu aluno de vela. “Não vai ser tão ruim”, ele pensou. “Chester não vai se importar”; Seth tinha certeza de que ele o admirava. Afinal, ele era seu professor e era mais velho.
-- Oi, Chester. Este lugar está vazio? – Seth perguntou ao sentar-se na cadeira ao lado de seu aluno. Mas Chester não respondeu. – Ótimo. E então, está ansioso pelas próximas aulas de vela? Você tem feito grandes progressos. – Novamente, Chester não disse nada, seu rosto estava imóvel. – O.K. Chester. Fico contente de termos tido essa chance de conversar.
Ryan sentou-se ao lado de Seth. Um pouco desconfortável com a situação. Aquela mesa era do garoto. Ryan e Seth pareciam completamente deslocados. As crianças olhavam para os dois adolescentes enquanto tentavam ocupar seus lugares.
Seth estava se sentindo um completo fracasso e pensou que qualquer chance que ele pudesse ter tido de tornar-se amigo de Ryan até ali tinha acabado. Ninguém iria querer sentar na mesa das crianças. E ninguém iria querer ser amigo de alguém que...
Mas Seth teve seus pensamentos interrompidos pelos aplausos. Marissa tinha subido ao palco e a atenção de todos se voltara para ela. A platéia se acalmou.
-- Muito obrigada a todos por terem vindo. Todos os anos organizamos um desfile de moda para arrecadar fundos para o abrigo de mulheres vitimas de violência. Não poderíamos fazer isso sem o apoio de vocês e do Fashion Island... – Marissa continuou...


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... a falar e a platéia a ouvir. Mais uma vez Ryan estava arrebatado. Não conseguia tirar os olhos dela. – Aproveitem o desfile.
Quando Marissa se virou para voltar aos bastidores, viu de relance, que Ryan estava olhando para ela. Ela sorriu, e o sorriso foi aumentando à medida que foi indo para trás das cortinas, onde Summer estava aguardando em seu vestido Pucci. Ficava fantástico nela. “Vá mostrar ao mundo sua beleza. Agora eu tenho o Ryan”, pensou. Bateu um high-five* com Summer e ela entrou no palco.
A música estava a toda e o publico estava animado.
A personalidade de Summer tomou conta da passarela – animada, divertida e extrovertida. Ela era a dona do salão. Todos a adoravam, inclusive Seth. Ele não conseguia tirar os olhos dela. Summer estava maravilhosa em seu vestido de cores brilhantes e estampa psicodélica.
-- Ela tem tudo a ver com o Taiti... – disse Seth, atordoado, ao observar seu andar pela passarela. “Em apenas alguns meses”, ele pensou, “vai chegar o momento de falar com ela, de aparecer no seu radar”. O plano Summer estava seguindo seu caminho adequadamente, tal como ele havia planejado.
Os bastidores estavam parecendo um desfile da Victoria’s Secret. Garotas correndo para todo lado, trocando de roupa freneticamente, fazendo maquiagem e alisando os cabelos. Garotas magérrimas com sutiãs push-up. Um desfile de vaidades e vestidos de estilistas famosos.
No banheiro, Marissa tinha acabado de passar gloss nos lábios quando Summer entrou. – Olha só o que eu roubei... – ela gargalhava, enquanto segurava duas taças de champanhe.
Mas Marissa tinha algo melhor. Abriu a bolsa e ofereceu-lhe uma garrafa de vodka. – Olha o que eu roubei!
As duas riam enquanto tomavam o champanhe. “Até que a noite está sendo boa”, Marissa pensou. Ryan estava lá, o ...

*Cumprimento onde batem-se as mãos espalmadas.


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... desfile estava sendo um sucesso e Summer tinha ficado ótima no vestido Pucci.

Todos aplaudiram quando Marissa entrou no palco. A platéia era ainda mais respectiva a Marissa do que a Summer. Ela tinha tanto charme e uma graça inata. Todos a amavam. Ryan não conseguia tirar os olhos dela. Marissa percebeu e, quando seus olhares se cruzaram, pareceu que o tempo tinha parado.
“Essa garota realmente tem sorte”, ele pensou. Sorte de estar ali, com o mundo a sua disposição. Ryan se perguntava se um pouco dessa sorte respingaria nele. O que essa garota tinha?
Mas sua fantasia acabou quando Luke e sua turma ficaram em pé e começaram a gritar. Suas vozes ásperas e seus assobios tomaram conta do salão como uma torcida de futebol americano gritando pelo touchdonw. Ryan estava um pouco espantado. Para jovens com tanto dinheiro eles tinham pouca classe. Luke reparou que Ryan estava olhando para Marissa e o encarou. Ryan sustentou o olhar. Dois garanhões se medindo.
Ryan levantou-se; não podia continuar sentado por mais tempo. As coisas ali dentro eram perfeitas demais e ele precisava respirar um pouco de realidade. Uma válvula de escape. Marissa tinha percebido tudo. Os olhares entre Ryan e Luke, mas acima de tudo, havia percebido como seu pai parecia desconfortável.
Na mesa repleta de adultos, Marissa viu seu pai encolhido na cadeira. Desconfortável e irritado. Gostaria de saber o que estava errado. Será que ele tinha reparado que Summer estava com seu vestido? Teria ficado bravo? Agora, ela estava se sentindo mal, mas sempre tinha emprestado roupas para Summer. Seria alguma outra coisa? Marissa pensou nos dois caras que tinham aparecido novamente naquela tarde. E imaginou o que poderia estar acontecendo com seu pai.


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No banheiro, Ryan estava começando a secar as mãos quando Jimmy entrou e se fechou em um reservado, batendo a porta.
Ryan ficou quieto quando começou a ouvir o choro do outro lado da porta. Depois os soluços. Esse cara crescido estava chorando de verdade? Ryan nunca tinha ouvido um pai chorar antes, nem mesmo o seu, e ele estava na prisão. “Talvez a vida por aqui não seja tão perfeita”, pensou Ryan. Talvez essas pessoas tivessem os mesmos problemas que todas as outras tem. Talvez estivesse simplesmente triste ou também se sentisse deslocado. O que quer que fosse, Ryan sabia que não havia nada que pudesse fazer. Sentiu-se impotente e com vontade de entrar para ajuda-lo, mas não podia. Não estava em sua casa. Ryan deixou Jimmy sozinho e voltou para sua mesa.
Quando voltou, o desfile acabara de terminar e todos estavam indo embora. Ryan olhou para Seth e o seguiu rumo a porta principal. Summer o interceptou.
-- Ei, aonde você vai? – ela disse enquanto pegava o braço dele gentilmente. Ryan ficou mudo. – Minha amiga Holly... bem, os pais dela nos deixaram usar a casa da praia, como presente. Você sabe, pelo nosso trabalho duro pela caridade... – Summer sorriu para Ryan com ar de flerte. – Se precisar de uma carona, ou de qualquer outra coisa... meu nome é Summer. E ela andou até um carro cheio de garotas dando risada.
Ryan estava atônito. Uma casa de praia? Esse era realmente um mundo completamente diferente de Chino. Mas ele estava curioso. Marissa provavelmente estaria lá. Seth voltou para chamá-lo.
-- Deveríamos ir nessa festa. Na casa da Holly... – Ryan disse, esperando que Seth quisesse ir.
-- Uh-huh. Não. Não é pra gente – respondeu Seth rapidamente. Ele não conseguiria agüentar mais humilhações na frente de Ryan e sabia que não fazia parte daquela festa.
Ryan pensou por um momento. Qual seria a melhor forma de lidar com isso? – A Summer acabou de me convidar.


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-- É? Ela convidou... você? – Seth perguntou. Arrasado. Isso era ainda pior. O amor de sua vida estava interessado em Ryan.
“Péssimo jeito de lidar com isso”, pensou Ryan. – Nós. Ela convidou você especificamente, ele corrigiu.
-- Mesmo? Ela convidou? Isso não faz sentido, mas... –E Seth concordou em ir quando olhou e viu Summer pular para dentro de um Range Rover conversível. Ele não conseguia resistir a ela.
As meninas gritaram, chamando os garotos para entrar no carro. E Seth chegou em um instante.
Ryan o seguiu de perto e, assim que fechou a porta, pegou Marissa olhando para ele enquanto subia no Yukon de Luke. Luke percebeu. Mas dessa vez ele não estava acreditando muito em toda essa história de “parente do vizinho”.
-- Quem é esse? – Luke perguntou.
-- Como é que eu vou saber? – respondeu Marissa.
-- Porque você não para de olhar pra ele.
-- Não estou olhando. Além do mais, eu estou com você – disse Marissa enquanto se curvava e dava um beijo no rosto de Luke.
-- Continue assim que eu te perdôo – Luke respondeu ao acelerar o carro. Marissa beijou mais uma vez, mas continuou com os olhos abertos, observando Ryan desaparecer no horizonte.
No outro carro, Ryan encolhia os ombros e olhava para Seth, que estava sorrindo de orelha a orelha. No final das contas, Newport não era tão ruim assim.

domingo, 8 de novembro de 2009

After a while - VERONICA SHOFFSTALL

After a while you learn
the subtle difference between
holding a hand and chaining a soul
and you learn
that love doesn't mean leaning
and company doesn't always mean security.
And you begin to learn
that kisses aren't contracts
and presents aren't promises
and you begin to accept your defeats
with your head up and your eyes
ahead
with the grace of woman, not the grief of a child
and you learn
to build all your roads on today
because tomorrow's ground is
too uncertain for plans
and futures have a way of falling down
in mid-flight.
After a while you learn
that even sunshine burns
if you get too much
so you plant your own garden
and decorate your own soul
instead of waiting for someone
to bring you flowers.
And you learn that you really
Can endure
you really are strong
you really do have worth
and you learn
and you learn
with every goodbye, you learn.


TRADUÇÃO

Depois de um tempo - Veronica Shoffstall

Depois de um tempo você aprende
a sutil diferença entre
segurar uma mão e acorrentar uma alma
e você aprende
que amar não significa apoiar-se
e companhia não quer sempre dizer segurança
e você começa a aprender
que beijos não são contratos
e presentes não são promessas
e você começa a aceitar suas derrotas
com sua cabeça erguida e seus olhos adiante
com a graça de mulher, não a tristeza de uma criança
e você aprende
a construir todas suas estradas no hoje
porque o terreno de amanhã é
demasiado incerto para planos
e futuros têm o hábito de cair
no meio do vôo
Depois de um tempo você aprende
que até mesmo a luz do sol queima
se você a tiver demais
então você planta seu próprio jardim
e enfeita sua própria alma
ao invés de esperar que alguém lhe traga flores
E você aprende que você realmente pode resistir
você realmente é forte
você realmente tem valor
e você aprende
e você aprende
com cada adeus, você aprende.
Durante toda minha vida, muitas pessoas passaram por mim, dia após dia.
Mas somente algumas dessas pessoas, ficarão pra sempre em minha memória.
Essas pessoas são ditas amigas, e as levarei pra sempre em meu coração,
às vezes pelo simples fato de terem cruzado meu caminho,
às vezes pelo simples fato de terem dito uma única palavra de conforto quando eu precisei.
Às vezes por ter me dado um minuto de sua atenção, e me ouvido falar de minhas angústias, medos, vitórias, derrotas...
Às vezes por terem confiado em mim, e me contado também seus problemas, angústias, vitórias, derrotas... Isso é ser amigo: é ouvir, é confiar, é amar. E amigos de verdade, ficam pra sempre em nossos corações, assim como as pegadas na alma, que são indestrutíveis. À você minha amiga: você é muito especial e importante para mim. Eu te adoro muito. Sua amizade para mim tem um valor enorme, e nada que eu possa dizer à você, pode ser tão especial ou mais significativo do que sua amizade para mim...
Para uns, felicidade é
Dinheiro no bolso,
Cerveja na geladeira,
Roupa nova no armário.
Para outros tantos,
Ser feliz é conhecer o mundo,
Ter um conhecimento profundo
Das coisas da Terra e do Ar.
Mas, para mim, ser feliz é diferente.
Ser feliz é ser gente,
É ter vida,
Que como dizia o poeta:
"É bonita, é bonita e é bonita..."
Ser feliz é ver todo dia
Um sorriso de criança.
É a música, é a dança,
É a paz, é o prazer
De descobrir a cada dia
Que a vida se inicia novamente,
A cada amanhecer.
Ser feliz é fazer da vida
Uma grande aventura,
A maior loucura,
Um enorme prazer.
Ser feliz é ser amigo
Mas, antes de tudo, é ter amigos,
Maravilhosos,
Exatamente assim:
Como você!!

sábado, 7 de novembro de 2009

AMANHÃ PODE SER TARDE

Ontem ?...Isso faz tempo!...
Amanhã ?... Não nos cabe saber...

Amanhã pode ser muito tarde
Para você dizer que ama,
Para você dizer que perdoa,
Para você dizer que desculpa,
Para você dizer que quer tentar de novo...
Amanhã pode ser muito tarde
Para você pedir perdão,
Para você dizer:
Desculpe-me, o erro foi meu!...
O seu amor, amanhã, pode já ser inútil;
O seu perdão, amanhã, pode já Não ser preciso;
A sua volta, amanhã, pode já não ser esperada;
A sua carta, amanhã, pode já não ser lida;
O seu carinho, amanhã, pode já não ser mais
necessário; O seu abraço, amanhã, pode já não
encontrar outros braços...
Porque amanhã pode ser muito...muito tarde!

Não deixe para amanhã para dizer:
Eu amo você!
Estou com saudades de você!
Perdoe-me!
Desculpe-me!
Esta flor é para você!
Você está tão bem!...

Não deixe para amanhã
O seu sorriso,
O seu abraço,
O seu carinho,
O seu trabalho,
O seu sonho,
A sua ajuda...

Não deixe para amanhã para perguntar:
Por que você está triste?
O que há com você?
Ei!...Venha cá, vamos conversar...
Cadê o seu sorriso?
Ainda tenho chance?...
Já percebeu que eu existo?
Por que não começamos de novo?
Estou com você. Sabe que pode contar comigo?
Cadê os seus sonhos? Onde está a sua garra?...

Lembre-se:
Amanhã pode ser tarde...muito tarde!
Procure. Vá atrás! Insista! Tente mais uma vez!
Só hoje é definitivo!
Amanhã pode ser tarde...
"O maior erro que você pode cometer
É o de ficar o tempo todo com medo de cometer algum."
-WILLIAN SHAKESPEARE-


"Tarde demais o conheci, por fim; cedo demais, sem conhecê-lo, amei-o."
-WILLIAN SHAKESPEARE-


"Se você pensa que pode ou se pensa que não pode, de qualquer forma você está certo."
-HENRY FORD-


"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro."
-CLARICE LISPECTOR-


"É um amor pobre aquele que se pode medir."
-WILLIAN SHAKESPEARE-


"Você pode descobrir mais sobre uma pessoa em uma hora de brincadeira do que em um ano de conversa."
-PLATÃO-
Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir. Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar. Acordo pela manhã com ótimo humor mas ... permita que eu escove os dentes primeiro. Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre minha nocauteante beleza. Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me façam rir, mas não conte piadas e nem seja preconceituoso, não perca tempo, cultivando este tipo de herança de seus pais. Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto, um albergue da juventude. Eu saio em conta, você não gastará muito comigo. Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa. Respeite meu choro, me deixe sózinha, só volte quando eu chamar e, não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada. ( Então fique comigo quando eu chorar, combinado?). Seja mais forte que eu e menos altruísta! Não se vista tão bem... gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço. Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos, os pelos do peito e um joelho esfolado, você tem que se esfolar as vezes, mesmo na sua idade. Leia, escolha seus próprios livros, releia-os. Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate que isto é coisa de gente triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes.

Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça uma louca boa, uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca ... Goste de música e de sexo. goste de um esporte não muito banal. Não invente de querer muitos filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua familia... isso a gente vê depois ... se calhar ... Deixa eu dirigir o seu carro, que você adora. Quero ver você nervoso, inquieto, olhe para outras mulheres, tenha amigos e digam muitas bobagens juntos. Não me conte seus segredos ... me faça massagem nas costas. Não fume, beba, chore, eleja algumas contravenções. Me rapte! Se nada disso funcionar ... experimente me amar!

-MARTHA MEDEIROS-
"Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver."

-Dalai Lama-
Há quem diga que todas as noites são de sonhos.
Mas há também quem garanta que nem todas, só as
de verão. No fundo isso não tem muita importância.
O que interessa mesmo são as noites em si, são
os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre,
em todos os lugares, em todas as épocas do ano,
dormindo ou acordado.

-WILLIAN SHAKESPEARE-

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Não me pergunte...
MAURO BIAZI

Não me pergunte o que fazer da vida se você não sabe do que é feita a sua, de que sonhos ela se nutre, dos amores que ela deseja, de que aromas ela sente tanta falta, de que cores colorem seus dias, de que estação ela mais gosta, de que flores seu coração suspira, de que manhãs emolduradas por raios de sol ela tanto ama...
Não me pergunte o que dar à sua vida se você nada sabe de repartir amor, nada sabe de espreitar a noite ansiosamente transformadora, nada sabe de abrir os braços para um estranho, de assoviar uma melodia que faz dançar um beija-flor, de sentir o gosto adocicado de um beijo que rodopia os sentidos, de saltar pro dia anunciando boas novas...
Não me pergunte o que esperar da vida se você nada espera da sua, nada deseja que não seja o óbvio, nada sente quando a brisa do outono acaricia seu corpo, nada vê no balé da andorinha que veio desfrutar o seu verão, nada sabe de se dar, de doar, de repartir uma fatia do seu existir...
Não me pergunte o que é a vida, do que ela é feita, de que centelha mágica foi esculpida, qual o seu propósito, qual a razão de você respirar e andar daqui pra lá, o porquê de seres que és, de teres o que tens, de agires numa penumbra de ausência, sentimentos que dá pena, que dá dó, que causa arrepio na alma de quem ama...
Me pergunte, por fim, naquilo que você pode se transformar se abrir mão do orgulho, da indiferença, da mesquinhez, do desprezo... e então eu saberei, sem pretensão, aconselhar seu coração a ouvir o vento humano que assopra dia e noite trazendo um cheiro de amor no ar, uma lufada de esperança, uma brisa doce e envolvente a anunciar que a humanidade tem salvação... e você também.